7.15.2010

Carta 3 - Para os meus pais.





Oi pai, oi mãe.

Pai, quero te dizer primeiramente que assim como na minha vida, você será coadjuvante nesta carta. Obrigada pela boa vontade tardia, que sempre é tempo de se tentar criar laços. Entendo suas escolhas e a sua vida. Eu te absolvo, pai.


Mãe, eu fui uma ótima filha por muitos anos, você nunca precisou se preocupar com reuniões escolares ou se eu ia passar de ano. Durantes anos não precisou se preocupar com as minhas companhias, com as minhas roupas, com os meus brinquedos. Como boa filha de mãe solteira, aos 8 anos eu já preparava minha comida e lavava minha louça.

Eu cresci sabendo tudo, você nunca me escondeu nada. Sempre me contou as verdades sobre si mesma e sobre a vida.
Você foi meu mundo por anos e hoje eu imagino a dor que sentiu quando o deixou de ser. Arrisco dizer que sei exatamente o momento em que isso aconteceu e que dali em diante seriam quase 7 anos de brigas, tristezas, decepções e crescimento.

Crescer dói.

E eu fiquei lá, vivendo e causando dor e te fazendo sofrer. Hoje, sendo mãe, imagino o balde de água fria que foi. Você está lá, criando e fazendo planos praquela pessoa que lutou tanto para ter, passando por cima de patriarcados e preconceitos e de repente aquela imbecilzinha resolve que é gente e vai lá viver e fazer merda. Joga tudo pro alto e fere todos, sem nem ao menos fazer ideia do tamanho do estrago que está fazendo.

Saímos ilesas, apesar das cicatrizes. E crescemos, mãe. Juntas. Nos tornamos pessoas melhores, mais dóceis, mais calmas e menos rancorosas. Nos aceitamos como somos, aprendemos a não esperarmos da outra o que não existe, entendemos a essência, mesmo que não concordemos com algumas atitudes.

Perdoamos os meus e os teus erros, principalmente os meus, por que eu também precisava me perdoar.

Eu sei mãe, essa carta parece que só fala de dor, mas seria simples demais falar da minha infância linda, das viagens ou das militâncias e bocas de urna que fizemos juntas. Nós somos mais que isso. Somos maiores que as dores, que os momentos bons, nós sublimamos.

Eu te amo, mãe. Muito mais do que te amei quando era criança, muito mais do que te odiei quando era adolescente, eu te amo e tenho orgulho de você.

Obrigada, por todas as suas atitudes, obrigada por tudo.

Que venham as tardes frescas, vendo o mar da areia, dividindo o cigarro e o silêncio.

Sempre sua,
Rachel Patrício.


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