7.15.2010

Carta 3 - Aos meus Pais

Faz um tempo que eu estou encarando a tela em branco. É um desafio escrever para vocês. Passam 40 mil coisas pela minha cabeça.

Começa que vocês me deram absolutamente tudo, inclusive a vida, rs. Vocês me deram uma infância completa, não faltou nada. Ok, talvez tenha faltado o elefante que eu queria ter no jardim, mas entendo que o jardim de casa era pequeno. Falando sério, hoje eu reconheço o quanto você trabalharam para que não faltasse nada para mim e para meus irmãos. Colégios bons, cursos extra curriculares (no meu caso a cada 3 meses eu inventava um novo: violão, inglês, espanhol, dança, natação. E depois desses 3 meses eu desistia.). Só não desisti do inglês porque vocês não deixaram, o que eu agradeço já que meu primeiro emprego anos depois veio a ser justamente professora de inglês.
Sei que dei bastante trabalho na escola. Você sabem que eu sempre tive uma preguiça extrema em estudar coisas que não em interessam. Mas também, há meses atrás eu vi o olhar orgulhoso de vocês ao me verem na cerimônia da pós graduação, fazendo discurso ainda por cima, rs.
Lembro de você mãe, durante e após as reuniões de pais no colégio com aquele olhar que só as mães tem, quando os professores falavam do meu potencial, inteligência, preguiça e falatório em sala de aula. Depois lembro de quando o pai chegava do trabalho e você contava tudo para ele. Ele olhava para mim e perguntava "E aí?"... eu nunca tinha o que dizer porque sabia o quanto vocês trabalhavam para me manter lá,

E quando eu decidi que queria fazer intercâmbio? Você acharam que seria mais alguma vontade que iria durar 3 meses e depois eu ia desistir. Só que dessa vez eu não desisti. Vocês me acompanharam durante todo o processo de seleção e preparação. Até que finalmente veio a notícia do destino da minha viagem: Dinamarca! O pai ficou super feliz, a mãe já foi logo dizendo que Dinamarca não, depois entendi que foi instinto materno protetor que agiu naquele momento. Afinal você não queria sua filha num lugar desconhecido e sem dominar o idioma (no meu caso, sem ter a menor ideia do idioma).

E lá fomos nós, para o aeroporto. Na despedida, eu evitei chorar ao máximo, pois não queria que você se preocupassem com nada. Vocês me deram a oportunidade de crescer, foi difícil, mas um ano passou a nossa família se estendeu ao outro lado do oceano e eu voltei. Voltei e dei de cara com uma realidade diferente de quando eu saí daqui. Mas juntos como família superamos, não só isso, mas como muitas outras coisas que acontecem na vida das pessoas.

E aí veio a faculdade... com essa parte dos meus estudos vocês não tiveram que se preocupar... achei um curso que eu gostava e me joguei, dava até gosto de me ver virando noites e estressadíssima com pessoas incompetentes... Junto com essa época, vieram as baladas, as viagens... coisas que minha irmã mais velha não ligava, mas eu queria porque queria... E dá-lhe bater de frente, discutir, bater porta... rs, sempre fui esquentadinha, culpa de você que são espanhóis. Hoje também consigo entender a preocupação de vocês, eu via o mundo como aquilo, sem grandes problemas apenas os amigos, você viam o mundo perigoso como hoje eu reconheço que é. Obrigada pelas noites em claro me esperando e pelas ligações de madruga perguntando onde eu estava.

Cresci, feliz e saudável. Sempre sob os olhares e conselhos cuidadosos de vocês. Agora que sou "adulta" torço para que eu possa ser pelo menos metade do que vocês são como pessoas. Dignas, honestas, trabalhadoras, justas, amorosas e felizes. Aqui eu só estou contando um pedacinho da história de vocês que é muito maior, mais bonita e com muito mais realizações. Obrigada por tudo, tudo mesmo. Amo vocês.

Um beijo de sua filha,

Lika

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